Considerando que Alis Ubbo, a "enseada amena" desde há 3200 anos e mais conhecida por Lisboa, ainda não tinha gente suficiente a maçar a blogosfera, decidi juntar-me à festa...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Der Deutsche Herbst

Uma notícia que me chamou à atenção há uns tempos, mais precisamente no passado dia 25, foi a da libertação de Brigitte Mohnhaupt. Outrora chamada "a mais malvada mulher da Alemanha", esta assassina pertenceu ao grupo terrorista de extrema-esquerda Baader-Meinhof. Só este nome ainda hoje é capaz de gelar a espinha a muitos alemães ao evocar o Terror que nos anos 70 este grupo inflingiu na República Federal. Ele houve de tudo: sequestros, assassínios, assaltos,bombas,etc. Tudo com o venerável objectivo de "revelar a verdadeira face" da "tolerância repressiva" das democracias ocidentais, derrotar o capitalismo e mais uns tantos disparates arrogantes que têm inspirado alguns terroristas ao longo do seculo XX . Cumpriu 25 anos das cinco penas de prisão perpétua a que foi condenada e agora saiu em liberdade. Numa época como a actual em que o terrorismo é tão falado, vale a pena reflectir sobre os Baader-Meinhof.

Qualquer tipo de terrorismo surge num ambiente social e histórico que a ele seja propício, e este não foi excepção. Emergiu do meio da ressaca das movimentos estudantis dos anos 60, num país em que sucessivos governos do pós-guerra tinham ajudado a construir uma amnésia colectiva do que realmente se tinha passado na 2ª Guerra Mundial. O descontentamento com a República Federal da Alemanha (RFA) era grande e alguns chegavam mesmo a afirmar que não havia diferenças entre esta e a Alemanha Nazi. E juraram destruí-la. Nem que para isso fosse necessário usar os mesmo métodos que os nazis usaram para chegar ao poder! A juntar à loucura ignorante dos radicais deve-se recordar a simpatia que os mesmos colheram junto de muitos intelectuais, artistas e académicos da época.

O pico da violência dos Baader-Meinhof deu-se no ano de 1977, com os assassínios do Procurador-Geral da RFA e do presidente do Dresdner Bank e culminando no Outono, o chamado "Outono Alemão" (Deutscher Herbst). A 13 de Outubro um avião da Lufthansa foi pirateado e os terroristas exigiam a libertação dos muitos membros dos Baader-Meinhof presos. A polícia Federal Alemã não perdeu tempo.
A 18 de Outubro o avião foi libertado, sendo a notícia transmitida imediatamente pela rádio para todo o mundo. As prisões não foram excepção e nessa noite Andreas Baader, Gudrun Esslin e Jan-Carl Raspe suicidaram-se na prisão. Ulrike Meinhof suicidara-se antes, a Maio de 1976. No dia seguinte seria descoberto o corpo sem vida de Hans Martin Schleyer, presidente da Federação dos Industriais Alemães, em cujo rapto e assassínio Brigitte Mohnhaupt participou.

A Alemanha não foi a única a sofrer do terrorismo endógeno e anti-sistema na década de 70. A loucura sanguinária foi igual na Itália, onde o ex-Primeiro Ministro Aldo Moro foi raptado e assassinado. Um terrorismo diferente, de índole mais regionalista, mas igualmente brutal e estúpido, ceifou um número recorde de vidas nesta época na Irlanda do Norte e no País Basco. Esta foi também a década dos atentados de Munique, perpetrados por terroristas palestinianos em 1972.

A década de 70 mostrou como podem ser frágeis as democracias liberais aos seus opositores, chegando muitos a afirmar que as sociedades ocidentais se tinham tornado ingovernáveis. Mas também mostrou a sua resiliência. O voto da maioria dos eleitores voltou-se definitivamente para o centro do espectro político, com uma larga rejeição do terrorismo e dos seus objectivos políticos, algo que os terroristas da época acharam que não iria acontecer...

Decidi postar duas fotografias de
Brigitte Mohnhaupt, uma tirada enquanto estudante e a outra já na prisão... Para reflectir...




3 comentários:

Ana Pena disse...

Gostei especialmente deste post porque li esta notícia na Visão e interessou-me!Obrigada pela tua explicação mais pormenorizada que me fez finalmente perceber do que se tratava.

Em tom de brincadeira ;) deixo uma sugestão cinematográfica relacionada: "The Edukators", o qual gostei muito!:) Deixo aqui umas curtas frases de algumas críticas do filme, que espero abram o apetite para o seu visionamento:P

"Writer-director Hans Weingartner's new film is a very German thriller with a theme: whatever happened to the rebellious spirit of 1968?"

in About.com

"The Edukators engagingly plays out the clash between youthful idealism and older pragmaticism"

in rottentomaoes.com

"The Edukators manages to combine political discourse, a love-triangle and a hostage plot without sacrificing its graceful humour."

in Timesonline

Narkissus disse...

Huum...já tinha ouvido uns zuns zuns sobre esse filme... Não é com o actor do Adeus Lenine? Despertaste-me a curiosidade...Vou ver se consigo vê-lo...

Ana Pena disse...

Sim, é com esse mesmo, o Daniel Brühl!