Considerando que Alis Ubbo, a "enseada amena" desde há 3200 anos e mais conhecida por Lisboa, ainda não tinha gente suficiente a maçar a blogosfera, decidi juntar-me à festa...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Homofobia...

Há pouco tempo escrevi um texto sobre a homofobia para o jornal da Faculadade de Ciências de Lisboa, o Improp. Resolvi pô-lo aqui também.


Porque a Homofobia mata...

Na madrugada de 7 de Outubro de 1998 Matthew Shepard, de 21 anos, foi continuamente esmurrado e pontapeado por outros dois jovens, que posteriormente o ataram a uma cerca de madeira e o abandonaram. Acabaria por morrer uma semana depois num hospital com múltiplas lesões. O seu bárbaro assassínio foi motivado por um tipo especial de ódio. O ódio aos homossexuais. A homofobia.


A homofobia pode ser definida como o ódio, a aversão ou a intolerância para com os homossexuais ou a homossexualidade e manifesta-se de várias formas e com várias intensidades. Desde a pena de morte por decapitação na Arábia Saudita ou por lapidação na Nigéria, à intolerância e preconceito generalizados nas sociedades ocidentais. É sobre estas últimas que este texto se debruça e, sobre aquela em que todos vivemos, a sociedade portuguesa.

O bárbaro assassínio de Mathew não ocorreu numa vila do Médio Oriente ou na savana africana, mas sim na pacata cidade de Laramie no Wyoming, Estados Unidos, um dos países pioneiros nos direitos dos homossexuais. O crime acabaria por abalar a América e iniciar uma reflexão sobre a extensão do preconceito e discriminação contra os homossexuais. Surgiu mesmo uma iniciativa legislativa para enquadrar a homossexualidade como motivo de crime de ódio e proibir definitivamente a discriminação com base na orientação sexual. A maioria Republicana no Congresso chumbou a proposta.

Ideologias à parte, o caso mostra que não é por os homossexuais já não serem condenados à morte ou atirados para os calabouços, que passaram a ser respeitados ou mesmo tolerados pela sociedade. Uma sociedade não se torna mais tolerante e respeitadora da diferença por decreto-lei. Essa é uma mudança cultural que só pode ocorrer com a participação activa de toda a sociedade. E é triste a sociedade onde a falta de respeito pelo outro e pela sua diferença pode levar alguém a matar, por um motivo tão pueril como o facto dessa pessoa amar de uma forma diferente da maioria. Ainda mais triste é a indiferença que uma sociedade possa manifestar contra crimes baseados no ódio ou em preconceitos. Foi isto que sucedeu em Portugal com o caso Gisberta.

Gisberta, uma transexual brasileira nascida Gisberto Salce Júnior, morreu vítima de agressões e torturas continuadas, tendo o seu corpo sido encontrado em Setembro de 2005 submerso no fosso de um prédio inacabado, no Porto. O crime choca ainda mais quando sabemos a idade dos assassinos. Eram crianças. Treze crianças torturaram cruelmente durante três dias uma pessoa já debilitada pela SIDA, pela hepatite e pela fome. A tortura de Gisberta com um pau que lhe introduziram no ânus e os insultos frequentes que lhe dirigiam devido à sua transexualidade evidenciam a importância do preconceito na motivação do crime. Ainda assim, esta motivação acabaria por ser recusada pelo tribunal. O mesmo tribunal que recusou ter havido homicídio, classificando-o de “brincadeira que correu mal”. O padre Lino Maia, ligado à instituição católica que era responsável pelos menores e, deve acrescentar-se, pela sua (des)educação, teve mesmo a ousadia de afirmar que ela andaria a “molestar os jovens”. Isto mostra um facto: os preconceitos contra as minorias sexuais atingem todos os sectores da sociedade, da Igreja ao Estado, e até, por muito triste que seja, as crianças.

E que faz a classe política? Nada! Aliás, deve mesmo registar-se com vergonha o silêncio ensurdecedor da maioria dos políticos e da Igreja Católica, directamente envolvida devido aos menores estarem à guarda de uma das suas instituições. O mesmo silêncio político registou-se em 2005, quando se soube da existência de milícias populares anti-homossexuais em Viseu. Afirmando querer fazer aquilo a que chamaram “limpeza moral”, ameaçaram matar se necessário. Várias pessoas foram atacadas em Viseu perante a passividade e inépcia das autoridades políticas e policiais, que já conheciam a identidade de alguns dos agressores e que pouco ou nada fizeram.

Mas a homofobia não se revela apenas nestes casos mais pungentes e dramáticos. Há outras formas bem mais comuns, mas ainda assim sentidas como bastante insultuosas. Muito/as homossexuais já foram insultados com os vulgares e ordinários termos “paneleiro” ou “fufa” na rua e sem qualquer motivo aparente além da sua simples existência. É também sobejamente conhecido que muitos adolescentes homossexuais sofrem frequentemente bullying por parte dos colegas de escola. Mas a ofensa e insulto também pode ser pública e dita por personalidades de alguma relevância. Desde as “aberrações da Natureza” do Arcebispo de Braga, Eurico Dias Nogueira, às já famosas opiniões do economista João César das Neves, que na sua coluna do Diário de Notícias, vocifera insultos contra os homossexuais de uma forma mais intensa e frequente que qualquer outra personalidade portuguesa.

É verdade que a sociedade portuguesa tem-se tornado progressivamente mais tolerante para com a homossexualidade, mas estes casos recentes demonstram o longo caminho ainda a percorrer. O preconceito pode ser por vezes tão forte e enraizado que vence o amor que um pai ou uma mãe têm por um filho/a. Há jovens no nosso país expulsos de casa quando os pais tomam conhecimento da sua homossexualidade. Felizmente, os pais que os apoiam são esmagadoramente mais comuns.

Por que que a homofobia mata, está à responsabilidade de cada um de nós não apenas tolerar a diferença mas também respeitá-la. E dos nossos deveres enquanto cidadãos, deve fazer parte não apenas votar, mas também a procura de esclarecimento sobre o real fundamento dos nossos preconceitos, não só contra a orientação sexual, mas também contra etnias, nacionalidades ou religiões diferentes. Por que apesar das nossas diferenças vivemos todos na mesma sociedade e somos todos atingidos por problemas comuns.

P.S.: Queria dedicar o texto aos milhares de homossexuis perseguidos, torturados e mortos pelos nazis. Eram identificados pelo triângulo rosa nos campos deconcentração. Vítimas esquecidas do Holocausto, os que sobreviveram continuaram presos após o fim da 2ª Guerra Mundial, devido à homossexualidade continuar proibida nas novas repúblicas alemãs. Para eles, o nazismo terminou apenas quando a morte chegou. Em 2002 o parlamento da Alemanha pediu formalmente desculpas às vítimas homossexuais do Holocausto, em nome de todo o povo alemão.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A nossa Democracia...

Péricles


Hoje, e mais uma vez, membros da nossa intelligentia política e jurídica brindaram-nos com mais uns disparates de primeira água, que mostram bem o real valor da democracia para pessoas cujo trabalho supostamente a deveria defender e melhorar.

O primeiro veio do líder do CDS-PP, Ribeiro e Castro, que numa manifesta e profunda falta de respeito pelo referendo e pela aprovação de uma lei por quase 2/3 da Assembleia (PS, CDU, BE e muitos deputados do PSD), referiu que o Presidente da República deveria ter usado um "gesto de acção" para manifestar as suas reservas em relação à lei do aborto, ou seja, que deveria ter vetado a lei. Teve mesmo a lata de dizer que: "A promulgação desta lei [do aborto] marca um momento de profunda divergência e profundo desapontamento com parte do eleitorado que elegeu o professor Cavaco Silva." Desejar o veto de uma lei sufragada e aprovada em referendo, ainda que não vinculativo, é muito, muito triste. Ainda bem que ele afirma ser o líder dos "democratas-cristãos"...

O segundo disparate veio do nosso Supremo Tribunal de Justiça, que emitiu um acórdão a condenar o Público por ter publicado em 2001 que o Sporting devia ao Estado 2300000 euros, notícia que o próprio tribunal (será mesmo um?) aceita ser verdade!!!!!! Mas as pérolas destes juízes para justificar tal acto ainda são mais inacreditáveis: " O conflito entre o direito de liberdade de imprensa e de informação e o direito de personalidade [...] é resolvido em regra, por via da prevalência do último em relação ao primeiro." No comments, claro. Mas há mais! Afirmam ainda que, independentemente de um "facto" ser verdadeiro ou falso (!!!!), a "divulgação jornalística de facto susceptível de diminuir a confiança" numa "pessoa colectiva", ofende essa mesma "pessoa"! Pois. E daí? Como pode ser isto um argumento? Que é que pretendem? Multar todos os jornais que divulgem crimes e ilegalidades só porque ofendem o "bom nome"? Não será óbvio que estes senhores não respeitaram a liberdade de imprensa e de expressão?
O Público vai recorrer ao Tribunal Constitucional. Já que se pode pôr o "Estado" em tribunal, porque é que esta chusma incompetente não pode ser levada a tribunal também por violação das nossas liberdades fundamentais?





segunda-feira, 9 de abril de 2007

Orquídeas...portuguesas!



Não sou grande fotógrafo, mas ainda assim decidi pôr estas duas fotos que tirei perto do Penedo de Lexim, algures nos arredores de Mafra. É que para mim estas plantinhas são especiais! Não é por serem apenas bonitas (embora o sejam de facto)! É por se tratar de orquídeas! Sim senhor, essa família de plantas com flor, muito na moda actualmente, também tem representantes autóctones de Portugal! E não são poucos por sinal...

A orquídea branca é uma
Cephalantera longifolia e a de flores rosa pálido pertence à espécie Orchis italica.

Ainda está para ver é por quanto tempo o concelho de Mafra mantém as suas poucas relíquias naturais... É que com o crescimento imobiliário ao rubro e o frenesim de construção de viadutos, pontes, rotundas, estradas e auto-estradas que se vive actualmente naquele concelho, alguns receios começam a surgir na minha cabeça, quais ervas-daninhas num canteiro mal cuidado...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Postwar



Para quem gosta de História Europeia recomendo absolutamente a última obra de Tony Judt: Postwar - A History of Europe since 1945.

Podia comentar a obra mas não vale a pena. As análises, os elogios, os comentários têm sido tantos e escritos por tanta gente entendida na matéria que eu não ia acrescentar mais nada. Até José Manuel Fernandes, director do Público, fê-lo recentemente.

Está magistralmente bem escrita e numa linguagem relativamente simples, sem cair na armadilha da simplificação dos conteúdos. Eu comprei-a quando saiu no final de 2005, altura em que só estava disponível a versão inglesa. Actualmente já se encontra traduzida na língua lusa.

Vale a pena...

Der Deutsche Herbst

Uma notícia que me chamou à atenção há uns tempos, mais precisamente no passado dia 25, foi a da libertação de Brigitte Mohnhaupt. Outrora chamada "a mais malvada mulher da Alemanha", esta assassina pertenceu ao grupo terrorista de extrema-esquerda Baader-Meinhof. Só este nome ainda hoje é capaz de gelar a espinha a muitos alemães ao evocar o Terror que nos anos 70 este grupo inflingiu na República Federal. Ele houve de tudo: sequestros, assassínios, assaltos,bombas,etc. Tudo com o venerável objectivo de "revelar a verdadeira face" da "tolerância repressiva" das democracias ocidentais, derrotar o capitalismo e mais uns tantos disparates arrogantes que têm inspirado alguns terroristas ao longo do seculo XX . Cumpriu 25 anos das cinco penas de prisão perpétua a que foi condenada e agora saiu em liberdade. Numa época como a actual em que o terrorismo é tão falado, vale a pena reflectir sobre os Baader-Meinhof.

Qualquer tipo de terrorismo surge num ambiente social e histórico que a ele seja propício, e este não foi excepção. Emergiu do meio da ressaca das movimentos estudantis dos anos 60, num país em que sucessivos governos do pós-guerra tinham ajudado a construir uma amnésia colectiva do que realmente se tinha passado na 2ª Guerra Mundial. O descontentamento com a República Federal da Alemanha (RFA) era grande e alguns chegavam mesmo a afirmar que não havia diferenças entre esta e a Alemanha Nazi. E juraram destruí-la. Nem que para isso fosse necessário usar os mesmo métodos que os nazis usaram para chegar ao poder! A juntar à loucura ignorante dos radicais deve-se recordar a simpatia que os mesmos colheram junto de muitos intelectuais, artistas e académicos da época.

O pico da violência dos Baader-Meinhof deu-se no ano de 1977, com os assassínios do Procurador-Geral da RFA e do presidente do Dresdner Bank e culminando no Outono, o chamado "Outono Alemão" (Deutscher Herbst). A 13 de Outubro um avião da Lufthansa foi pirateado e os terroristas exigiam a libertação dos muitos membros dos Baader-Meinhof presos. A polícia Federal Alemã não perdeu tempo.
A 18 de Outubro o avião foi libertado, sendo a notícia transmitida imediatamente pela rádio para todo o mundo. As prisões não foram excepção e nessa noite Andreas Baader, Gudrun Esslin e Jan-Carl Raspe suicidaram-se na prisão. Ulrike Meinhof suicidara-se antes, a Maio de 1976. No dia seguinte seria descoberto o corpo sem vida de Hans Martin Schleyer, presidente da Federação dos Industriais Alemães, em cujo rapto e assassínio Brigitte Mohnhaupt participou.

A Alemanha não foi a única a sofrer do terrorismo endógeno e anti-sistema na década de 70. A loucura sanguinária foi igual na Itália, onde o ex-Primeiro Ministro Aldo Moro foi raptado e assassinado. Um terrorismo diferente, de índole mais regionalista, mas igualmente brutal e estúpido, ceifou um número recorde de vidas nesta época na Irlanda do Norte e no País Basco. Esta foi também a década dos atentados de Munique, perpetrados por terroristas palestinianos em 1972.

A década de 70 mostrou como podem ser frágeis as democracias liberais aos seus opositores, chegando muitos a afirmar que as sociedades ocidentais se tinham tornado ingovernáveis. Mas também mostrou a sua resiliência. O voto da maioria dos eleitores voltou-se definitivamente para o centro do espectro político, com uma larga rejeição do terrorismo e dos seus objectivos políticos, algo que os terroristas da época acharam que não iria acontecer...

Decidi postar duas fotografias de
Brigitte Mohnhaupt, uma tirada enquanto estudante e a outra já na prisão... Para reflectir...




quinta-feira, 29 de março de 2007

Cravo,Lírio,Lírio,Rosa...


Decidi postar esta obra-prima do John Singer Sargent, pintor atípico e pouco conhecido de finais do século XIX. Reinava o Impressionismo na época, "ismo" que muito o influenciou mas duma forma diferente. É que ele não é mais um dos impressonistas, pelo menos para mim... Há ali uma mistura de realismo e impressionismo perfeita e bastante atípica...

É simplesmente bela a conjugação da luz do anoitecer com a luz daquela espécie de candeeiros de festa... E ele não precisa do céu para mostar o efeito do pôr-do-sol....Basta-lhe as tonalidades claras das flores: lírios, cravos e rosas e...as crianças, que para mim estão simbolizadas no título pela segunda palavra"Lírio"...

Carnation, Lily, Lily, Rose está actualmente na Tate Britain em Londres.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Política Cómica e Política Triste

Como as novidades políticas portuguesas nos últimos dias mais parecem nuvens cinzentas,daquelas grandes e com um negrume tal que anuncia tempestade...desde a troca de insultos no CDS-PP, que vive por estes dias em quase pré-implosão, ao "Grande Português" Salazar e à tentativa de aumento de influência e poder por parte da extrema-direita fascista...decidi por este vídeo.

O personagem em questão é o Almirante Pinheiro de Azevedo, Primeiro-Ministro da época do PREC. Vale a pena ver porque é de rir até às lágrimas...Eram outros tempos...Tempos em que a Assembleia era cercada e ninguém governava ou se deixava governar...Mas tempos também em que os políticos eram menos hipócritas e as pessoas mais optimistas...

segunda-feira, 26 de março de 2007

Um Pessoa Queer...


Ainda sobre o programa da RTP quero referir um pormenorzinho que me ficou a fermentar na memória...

A certa altura do programa Clara Ferreira Alves tentou corrigir a fama exagerada de Fernando Pessoa como alcoólico. Em sua ajuda Manuela Nogueira, sobrinha do poeta, procurou também "limpar" a memória e bom nome de Pessoa não só como bêbado mas também dos rumores "falsos" da sua homossexualidade. Disse isto de forma notoriamente indignada ou zangada ou aborrecida ou da forma que mais gostarem... Mas disse-o sobretudo incomodada...

Sinceramente qual o problema dele poder ter sido um grande bêbado? Ou homossexual? Teria sido pior ou melhor poeta? Teria sido um "Grande Português" menos grandioso e menos digno?...

E como tem a certeza que não era homossexual? Não é Fernando Pessoa um poeta suficientemente complexo, mesmo extrordinariamente complexo, para se afirmar com tanta veemência factos sobre a sua vida sentimental ainda hoje pouco conhecida?

Sinceramente, parece que têm medo de alguma coisa...E agora admito o meu raro instinto conspirativo! É que eu gostava que alguém me explicasse o porquê da sua poesia de cariz homossexual ter demorado tanto tempo a ser publicada! Foi a censura ou foi a sua própria família? Que dizer da carta que escreveu quando rompeu com Ofélia, a sua única namorada conhecida:

“O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a
Ofelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à
obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me
conserve com carinho na sua lembrança, como eu,
inalteravelmente, a conservarei na minha.

Fernando”

29, Novembro 1920

Por último, qual a razão do poema que se segue ter sido publicado pela primeira vez no Público de 16 de Março deste ano? Bem sei que faz parte da sua poesia inglesa, mas a sua qualidade é assim tão inferior para apenas 91 anos após a sua elaboração ser publicado? Ou será que não é bem isso?...



I write this to thy memory, my
love, who art not dead,
And to the memory of that love
we never knew to have.

I was the elder, you were the
younger, and we were boys.
Had we known how to love, we
would have loved each other.
Had we guessed that love's
way, we would have found its
joys,
But we were boys and we
loved each other as brother to
brother.

Yet if I met thee today, perhaps
it would be the same.
Now I am shamed to be what
erst I knew not I was.
Perhaps what happened was
best - that pure white flame
Of our love caught not our
senses to flame more yet worse.

I remember thee often and my
soul sighs sadly in me.
Do you remember me
sometimes and feel aught like
this?

To-day I know it were best if
we had lovers been,
To-day I know, but can care no
longer.

Thou wert graceful and fair; I
was neither: I loved.

The taint is deeper in me of
this ancient disease
That only the Greeks made
beautiful, because themselves
beautiful were.


Fernando Pessoa, 1916?


O Paladino dos Medíocres


Ainda a recuperar das náuseas que o povo Português consegue provocar sempre que vomita a sua mediocridade em doses cavalares...quero referir uma proeza inaudita do nosso sr salazar: conseguiu finalmente ganhar uma eleição democrática!!!!...

Enfim, a ignorância e a estupidez venceram mais uma vez! Nada de novo claro, mas ainda assim mete pena! Pena daqueles que não compreendem que Salazar foi de facto um dos homens que mais odiaram os portugueses, negando-lhes e privando-os de conhecimento, cultura e, sobretudo, bens materiais.
O seu maior legado foi o equilíbrio das finanças públicas, uma obsessão curiosa do nosso país, conseguido à custa da redução da vida do cidadão comum à mais completa penúria. Qualquer pessoa com algumas raízes na Beira conhece a miséria medieval de muitas aldeias antes do 25 de Abril, sem electricidade, água ou saneamento básico...

Até a liberdade que têm em votar na televisão um regime ditatorial não permitiria...

Mas... como disseram outrora: "Perdoiai-lhes Senhor..."


domingo, 25 de março de 2007

Que futuro? - A Europa enquanto solução

E ainda a propósito deste dia deixo aqui um texto sobre a construção europeia que fiz para o jornal da minha faculdade, o Improp, já lá vai um ano...



Que futuro? – A Europa enquanto solução

Na era de incertezas em que nos encontramos, incertezas quanto ao futuro do nosso país e do nosso continente, do nosso clima e da paz global, impõe-se uma reflexão sobre o presente. Numa época em que velhas nações renascem após uma decadência de séculos (a Índia, a China, o sudeste asiático), um pequeno país de uma dezena de milhões de habitantes questiona-se sobre a sua sobrevivência devido à concorrência de gigantes de biliões.

Antes de mais há que pôr de parte a reacção medrosa e hipócrita de fechar o nosso país aos produtos estrangeiros, chineses incluídos, e aos imigrantes. Salazar bem tentou tornar o país orgulhosamente só, mas ao tentar fazê-lo condenou à miséria e à ignorância milhões de portugueses. Resultados idênticos tiveram outros regimes fascistas e os regimes comunistas. E já que os ocidentais, portugueses incluídos, se gostam tanto de martirizar e arcar com as culpas de três quartos dos problemas do mundo (e de que são em parte os culpados), então deveriam ser os primeiros a ficar contentes pelos crescimentos económicos desconcertantes das nações menos desenvolvidas nos últimos anos. Mesmo que estes prejudiquem transitoriamente as nossas sociedades. Mas muitos não ficam. Ficam antes com medo e é aqui entra a hipocrisia.

Os movimentos anti-globalização ainda não perceberam que aquilo que impulsionou este crescimento foi a economia de mercado, vulgo capitalismo. Aquele capitalismo e aquela globalização, contra quem alguns ocidentais vociferam tão ferozmente, já tirou mais chineses da pobreza em uma década que o comunismo em cinco. Isto não é nenhum elogio a este regime económico. Antes deve ser entendido como uma simples constatação e ponto de partida. Assim, não é no regime económico que está o cerne do nosso problema. O capitalismo, como a democracia segundo Churchil, é um péssimo regime, mas mesmo com os seus horríveis defeitos continua a ser o melhor de todos os sitemas económicos.

Não, a mudança a ser feita não é económica. Não, a globalização não é o problema. Não, o liberalismo económico não é o problema. Não, a China não é o problema. O problema somos nós. Nós, o nosso sistema e a nossa sociedade é que têm de mudar, pelo menos em algumas coisas. E este problema estende-se aos restantes 450 milhões de pessoas que constituem a União Europeia. No século XXI, numa época de estagnação económica para o nosso continente, nós, europeus, já não estamos em posição de exigir que o resto do mundo se adapte ao nosso ritmo e se organize de acordo com a nossa vontade. Por que os tempos mudaram, nós devemos mudar também para podermos conservar os nossos valores políticos e sociais, bem como o nosso modelo social. Num mundo de 6 biliões de pessoas, mais democratizado do que alguma vez o foi, 10 milhões de portugueses não podem (e ainda bem) ter qualquer papel maioritário na tomada de decisões mundiais, se agirem individualmente. Não seria justo. O mesmo se passa com os 40 milhões de espanhóis, os 5 milhões de dinamarqueses ou os 16 milhões de holandeses. Mas 450 milhões de europeus podem, devem e têm esse poder.

A outrora chamada Comunidade Europeia ajudou o nosso continente a recuperar de duas guerras fratricidas que o deixaram total e literalmente em ruínas. Pela primeira desde o Império Romano os europeus ocidentais não se envolveram em guerras entre si durante mais de 60 anos. A Europa tornou-se mais rica e mais pacífica do que nunca. Tudo isto foi possibilitado em grande parte pela tomada de consciência dos europeus, que viram na progressiva união económica e política a única forma de ultrapassar a devastação da guerra e a sobrevivência da própria Europa.

Europeus sempre existiram, mas antes da 2ª Guerra poucos eram aqueles que tinham a percepção de que como europeus, partilhavam um conjunto de valores, tradições políticas e históricas únicas. A guerra acabou por dar à maior parte dos europeus um objectivo comum: impedir que tal catástrofe voltasse a ocorrer em solo europeu e fomentar a reconstrução de um continente deixado na miséria e na ruína. Estes factores permitiram a concretização daquilo a que se chamou “o projecto de construção europeia”. Um projecto que ainda não está definitivamente acabado mas que já provou a sua eficácia.

Agora que quase todas as nações europeias abandonaram um pouco da sua soberania milenar em questões tão importantes como o mercado, a moeda, a justiça, o ambiente, novas questões se colocam. Considerando que a união de esforços de todos os países europeus é imprescindível para a sobrevivência do nosso continente enquanto pólo de democracia e riqueza, muitos argumentam que o futuro da Europa e do nosso país passa pela criação de uma Federação Europeia.

Isto significaria a criação de uma espécie de super-estado europeu. Este teria uma política externa e um exército próprios que agiriam em nome do bem comum de todos europeus. Os domínios em que fosse vantajosa para o continente a existência de políticas comuns em todos os países, estariam sob a sua alçada.

Ao contrário do que muitos dizem, isto não implica nenhum suicídio das culturas nacionais europeias. Desde quando um português não se pode sentir também portuense ou alentejano. O europeísmo é perfeitamente compatível com o patriotismo, e este último com o orgulho regional e local. Seria perigosa a destruição dos valores próprios de cada país ou a uniformização das culturas europeias. Mas verifica-se que tal não aconteceu com o estádio avançado de integração europeia que já se alcançou.

Porque foi o nacionalismo e xenofobia que quase nos destruiram a todos no passado século, urge lutar para os erradicar definitivamente da Europa e construir um futuro baseado nos esforços comuns de todos os europeus. E poderá ser a nossa geração a materializar definitivamente esse sonho, se nós, os jovens de hoje, o quisermos e lutarmos por isso.

Independentemente de se gostar ou não da economia de mercado, da globalização e do crescimento económico do designado Terceiro Mundo, uma reflexão mostra-nos que não é por nós portugueses não gostarmos dele ou da globalização, que estes vão acabar. A nossa nação, país, estado, o quer que se lhe queira chamar, precisa de ser reinventada. O que eu e muitos outros defendem é que isso não é possível usando apenas os nossos poucos recursos de país pequeno que somos. Além de portugueses somos europeus, e é nesta aparentemente pequena constatação que poderá residir o nosso sucesso futuro.

25 de Março de 1957



Faz hoje 50 anos que o Tratado de Roma foi assinado no Capitólio em Roma. Uma data importante na História da Europa pois marca o início do "projecto europeu" com a criação da Comunidade Económica Europeia (CEE). Hoje fazem falta políticos corajosos como os que na altura deram este passo de gigante... E não é só por cá...Em todo o Ocidente!

Alfa...

Este é o primeiro post deste palratório. Engraçado o nome de palratório não é?... Para quem não sabe este termo significa "local para falar" e um dos seus possíveis sinónimos é locutório, que em Barcelona tem uma presença física abundante...

Não lhe pus blogue no nome pois esta palavra já começou a adquirir o significado de
local-de-despejo-da-diarreia-mental- de-algumas-pessoas-sem-nada-para-fazer...

Vou tentar que seja um pouco mais que isso... Não prometo mais nada!!!!