Considerando que Alis Ubbo, a "enseada amena" desde há 3200 anos e mais conhecida por Lisboa, ainda não tinha gente suficiente a maçar a blogosfera, decidi juntar-me à festa...

quinta-feira, 29 de março de 2007

Cravo,Lírio,Lírio,Rosa...


Decidi postar esta obra-prima do John Singer Sargent, pintor atípico e pouco conhecido de finais do século XIX. Reinava o Impressionismo na época, "ismo" que muito o influenciou mas duma forma diferente. É que ele não é mais um dos impressonistas, pelo menos para mim... Há ali uma mistura de realismo e impressionismo perfeita e bastante atípica...

É simplesmente bela a conjugação da luz do anoitecer com a luz daquela espécie de candeeiros de festa... E ele não precisa do céu para mostar o efeito do pôr-do-sol....Basta-lhe as tonalidades claras das flores: lírios, cravos e rosas e...as crianças, que para mim estão simbolizadas no título pela segunda palavra"Lírio"...

Carnation, Lily, Lily, Rose está actualmente na Tate Britain em Londres.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Política Cómica e Política Triste

Como as novidades políticas portuguesas nos últimos dias mais parecem nuvens cinzentas,daquelas grandes e com um negrume tal que anuncia tempestade...desde a troca de insultos no CDS-PP, que vive por estes dias em quase pré-implosão, ao "Grande Português" Salazar e à tentativa de aumento de influência e poder por parte da extrema-direita fascista...decidi por este vídeo.

O personagem em questão é o Almirante Pinheiro de Azevedo, Primeiro-Ministro da época do PREC. Vale a pena ver porque é de rir até às lágrimas...Eram outros tempos...Tempos em que a Assembleia era cercada e ninguém governava ou se deixava governar...Mas tempos também em que os políticos eram menos hipócritas e as pessoas mais optimistas...

segunda-feira, 26 de março de 2007

Um Pessoa Queer...


Ainda sobre o programa da RTP quero referir um pormenorzinho que me ficou a fermentar na memória...

A certa altura do programa Clara Ferreira Alves tentou corrigir a fama exagerada de Fernando Pessoa como alcoólico. Em sua ajuda Manuela Nogueira, sobrinha do poeta, procurou também "limpar" a memória e bom nome de Pessoa não só como bêbado mas também dos rumores "falsos" da sua homossexualidade. Disse isto de forma notoriamente indignada ou zangada ou aborrecida ou da forma que mais gostarem... Mas disse-o sobretudo incomodada...

Sinceramente qual o problema dele poder ter sido um grande bêbado? Ou homossexual? Teria sido pior ou melhor poeta? Teria sido um "Grande Português" menos grandioso e menos digno?...

E como tem a certeza que não era homossexual? Não é Fernando Pessoa um poeta suficientemente complexo, mesmo extrordinariamente complexo, para se afirmar com tanta veemência factos sobre a sua vida sentimental ainda hoje pouco conhecida?

Sinceramente, parece que têm medo de alguma coisa...E agora admito o meu raro instinto conspirativo! É que eu gostava que alguém me explicasse o porquê da sua poesia de cariz homossexual ter demorado tanto tempo a ser publicada! Foi a censura ou foi a sua própria família? Que dizer da carta que escreveu quando rompeu com Ofélia, a sua única namorada conhecida:

“O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a
Ofelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à
obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me
conserve com carinho na sua lembrança, como eu,
inalteravelmente, a conservarei na minha.

Fernando”

29, Novembro 1920

Por último, qual a razão do poema que se segue ter sido publicado pela primeira vez no Público de 16 de Março deste ano? Bem sei que faz parte da sua poesia inglesa, mas a sua qualidade é assim tão inferior para apenas 91 anos após a sua elaboração ser publicado? Ou será que não é bem isso?...



I write this to thy memory, my
love, who art not dead,
And to the memory of that love
we never knew to have.

I was the elder, you were the
younger, and we were boys.
Had we known how to love, we
would have loved each other.
Had we guessed that love's
way, we would have found its
joys,
But we were boys and we
loved each other as brother to
brother.

Yet if I met thee today, perhaps
it would be the same.
Now I am shamed to be what
erst I knew not I was.
Perhaps what happened was
best - that pure white flame
Of our love caught not our
senses to flame more yet worse.

I remember thee often and my
soul sighs sadly in me.
Do you remember me
sometimes and feel aught like
this?

To-day I know it were best if
we had lovers been,
To-day I know, but can care no
longer.

Thou wert graceful and fair; I
was neither: I loved.

The taint is deeper in me of
this ancient disease
That only the Greeks made
beautiful, because themselves
beautiful were.


Fernando Pessoa, 1916?


O Paladino dos Medíocres


Ainda a recuperar das náuseas que o povo Português consegue provocar sempre que vomita a sua mediocridade em doses cavalares...quero referir uma proeza inaudita do nosso sr salazar: conseguiu finalmente ganhar uma eleição democrática!!!!...

Enfim, a ignorância e a estupidez venceram mais uma vez! Nada de novo claro, mas ainda assim mete pena! Pena daqueles que não compreendem que Salazar foi de facto um dos homens que mais odiaram os portugueses, negando-lhes e privando-os de conhecimento, cultura e, sobretudo, bens materiais.
O seu maior legado foi o equilíbrio das finanças públicas, uma obsessão curiosa do nosso país, conseguido à custa da redução da vida do cidadão comum à mais completa penúria. Qualquer pessoa com algumas raízes na Beira conhece a miséria medieval de muitas aldeias antes do 25 de Abril, sem electricidade, água ou saneamento básico...

Até a liberdade que têm em votar na televisão um regime ditatorial não permitiria...

Mas... como disseram outrora: "Perdoiai-lhes Senhor..."


domingo, 25 de março de 2007

Que futuro? - A Europa enquanto solução

E ainda a propósito deste dia deixo aqui um texto sobre a construção europeia que fiz para o jornal da minha faculdade, o Improp, já lá vai um ano...



Que futuro? – A Europa enquanto solução

Na era de incertezas em que nos encontramos, incertezas quanto ao futuro do nosso país e do nosso continente, do nosso clima e da paz global, impõe-se uma reflexão sobre o presente. Numa época em que velhas nações renascem após uma decadência de séculos (a Índia, a China, o sudeste asiático), um pequeno país de uma dezena de milhões de habitantes questiona-se sobre a sua sobrevivência devido à concorrência de gigantes de biliões.

Antes de mais há que pôr de parte a reacção medrosa e hipócrita de fechar o nosso país aos produtos estrangeiros, chineses incluídos, e aos imigrantes. Salazar bem tentou tornar o país orgulhosamente só, mas ao tentar fazê-lo condenou à miséria e à ignorância milhões de portugueses. Resultados idênticos tiveram outros regimes fascistas e os regimes comunistas. E já que os ocidentais, portugueses incluídos, se gostam tanto de martirizar e arcar com as culpas de três quartos dos problemas do mundo (e de que são em parte os culpados), então deveriam ser os primeiros a ficar contentes pelos crescimentos económicos desconcertantes das nações menos desenvolvidas nos últimos anos. Mesmo que estes prejudiquem transitoriamente as nossas sociedades. Mas muitos não ficam. Ficam antes com medo e é aqui entra a hipocrisia.

Os movimentos anti-globalização ainda não perceberam que aquilo que impulsionou este crescimento foi a economia de mercado, vulgo capitalismo. Aquele capitalismo e aquela globalização, contra quem alguns ocidentais vociferam tão ferozmente, já tirou mais chineses da pobreza em uma década que o comunismo em cinco. Isto não é nenhum elogio a este regime económico. Antes deve ser entendido como uma simples constatação e ponto de partida. Assim, não é no regime económico que está o cerne do nosso problema. O capitalismo, como a democracia segundo Churchil, é um péssimo regime, mas mesmo com os seus horríveis defeitos continua a ser o melhor de todos os sitemas económicos.

Não, a mudança a ser feita não é económica. Não, a globalização não é o problema. Não, o liberalismo económico não é o problema. Não, a China não é o problema. O problema somos nós. Nós, o nosso sistema e a nossa sociedade é que têm de mudar, pelo menos em algumas coisas. E este problema estende-se aos restantes 450 milhões de pessoas que constituem a União Europeia. No século XXI, numa época de estagnação económica para o nosso continente, nós, europeus, já não estamos em posição de exigir que o resto do mundo se adapte ao nosso ritmo e se organize de acordo com a nossa vontade. Por que os tempos mudaram, nós devemos mudar também para podermos conservar os nossos valores políticos e sociais, bem como o nosso modelo social. Num mundo de 6 biliões de pessoas, mais democratizado do que alguma vez o foi, 10 milhões de portugueses não podem (e ainda bem) ter qualquer papel maioritário na tomada de decisões mundiais, se agirem individualmente. Não seria justo. O mesmo se passa com os 40 milhões de espanhóis, os 5 milhões de dinamarqueses ou os 16 milhões de holandeses. Mas 450 milhões de europeus podem, devem e têm esse poder.

A outrora chamada Comunidade Europeia ajudou o nosso continente a recuperar de duas guerras fratricidas que o deixaram total e literalmente em ruínas. Pela primeira desde o Império Romano os europeus ocidentais não se envolveram em guerras entre si durante mais de 60 anos. A Europa tornou-se mais rica e mais pacífica do que nunca. Tudo isto foi possibilitado em grande parte pela tomada de consciência dos europeus, que viram na progressiva união económica e política a única forma de ultrapassar a devastação da guerra e a sobrevivência da própria Europa.

Europeus sempre existiram, mas antes da 2ª Guerra poucos eram aqueles que tinham a percepção de que como europeus, partilhavam um conjunto de valores, tradições políticas e históricas únicas. A guerra acabou por dar à maior parte dos europeus um objectivo comum: impedir que tal catástrofe voltasse a ocorrer em solo europeu e fomentar a reconstrução de um continente deixado na miséria e na ruína. Estes factores permitiram a concretização daquilo a que se chamou “o projecto de construção europeia”. Um projecto que ainda não está definitivamente acabado mas que já provou a sua eficácia.

Agora que quase todas as nações europeias abandonaram um pouco da sua soberania milenar em questões tão importantes como o mercado, a moeda, a justiça, o ambiente, novas questões se colocam. Considerando que a união de esforços de todos os países europeus é imprescindível para a sobrevivência do nosso continente enquanto pólo de democracia e riqueza, muitos argumentam que o futuro da Europa e do nosso país passa pela criação de uma Federação Europeia.

Isto significaria a criação de uma espécie de super-estado europeu. Este teria uma política externa e um exército próprios que agiriam em nome do bem comum de todos europeus. Os domínios em que fosse vantajosa para o continente a existência de políticas comuns em todos os países, estariam sob a sua alçada.

Ao contrário do que muitos dizem, isto não implica nenhum suicídio das culturas nacionais europeias. Desde quando um português não se pode sentir também portuense ou alentejano. O europeísmo é perfeitamente compatível com o patriotismo, e este último com o orgulho regional e local. Seria perigosa a destruição dos valores próprios de cada país ou a uniformização das culturas europeias. Mas verifica-se que tal não aconteceu com o estádio avançado de integração europeia que já se alcançou.

Porque foi o nacionalismo e xenofobia que quase nos destruiram a todos no passado século, urge lutar para os erradicar definitivamente da Europa e construir um futuro baseado nos esforços comuns de todos os europeus. E poderá ser a nossa geração a materializar definitivamente esse sonho, se nós, os jovens de hoje, o quisermos e lutarmos por isso.

Independentemente de se gostar ou não da economia de mercado, da globalização e do crescimento económico do designado Terceiro Mundo, uma reflexão mostra-nos que não é por nós portugueses não gostarmos dele ou da globalização, que estes vão acabar. A nossa nação, país, estado, o quer que se lhe queira chamar, precisa de ser reinventada. O que eu e muitos outros defendem é que isso não é possível usando apenas os nossos poucos recursos de país pequeno que somos. Além de portugueses somos europeus, e é nesta aparentemente pequena constatação que poderá residir o nosso sucesso futuro.

25 de Março de 1957



Faz hoje 50 anos que o Tratado de Roma foi assinado no Capitólio em Roma. Uma data importante na História da Europa pois marca o início do "projecto europeu" com a criação da Comunidade Económica Europeia (CEE). Hoje fazem falta políticos corajosos como os que na altura deram este passo de gigante... E não é só por cá...Em todo o Ocidente!

Alfa...

Este é o primeiro post deste palratório. Engraçado o nome de palratório não é?... Para quem não sabe este termo significa "local para falar" e um dos seus possíveis sinónimos é locutório, que em Barcelona tem uma presença física abundante...

Não lhe pus blogue no nome pois esta palavra já começou a adquirir o significado de
local-de-despejo-da-diarreia-mental- de-algumas-pessoas-sem-nada-para-fazer...

Vou tentar que seja um pouco mais que isso... Não prometo mais nada!!!!