Considerando que Alis Ubbo, a "enseada amena" desde há 3200 anos e mais conhecida por Lisboa, ainda não tinha gente suficiente a maçar a blogosfera, decidi juntar-me à festa...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A nossa Democracia...

Péricles


Hoje, e mais uma vez, membros da nossa intelligentia política e jurídica brindaram-nos com mais uns disparates de primeira água, que mostram bem o real valor da democracia para pessoas cujo trabalho supostamente a deveria defender e melhorar.

O primeiro veio do líder do CDS-PP, Ribeiro e Castro, que numa manifesta e profunda falta de respeito pelo referendo e pela aprovação de uma lei por quase 2/3 da Assembleia (PS, CDU, BE e muitos deputados do PSD), referiu que o Presidente da República deveria ter usado um "gesto de acção" para manifestar as suas reservas em relação à lei do aborto, ou seja, que deveria ter vetado a lei. Teve mesmo a lata de dizer que: "A promulgação desta lei [do aborto] marca um momento de profunda divergência e profundo desapontamento com parte do eleitorado que elegeu o professor Cavaco Silva." Desejar o veto de uma lei sufragada e aprovada em referendo, ainda que não vinculativo, é muito, muito triste. Ainda bem que ele afirma ser o líder dos "democratas-cristãos"...

O segundo disparate veio do nosso Supremo Tribunal de Justiça, que emitiu um acórdão a condenar o Público por ter publicado em 2001 que o Sporting devia ao Estado 2300000 euros, notícia que o próprio tribunal (será mesmo um?) aceita ser verdade!!!!!! Mas as pérolas destes juízes para justificar tal acto ainda são mais inacreditáveis: " O conflito entre o direito de liberdade de imprensa e de informação e o direito de personalidade [...] é resolvido em regra, por via da prevalência do último em relação ao primeiro." No comments, claro. Mas há mais! Afirmam ainda que, independentemente de um "facto" ser verdadeiro ou falso (!!!!), a "divulgação jornalística de facto susceptível de diminuir a confiança" numa "pessoa colectiva", ofende essa mesma "pessoa"! Pois. E daí? Como pode ser isto um argumento? Que é que pretendem? Multar todos os jornais que divulgem crimes e ilegalidades só porque ofendem o "bom nome"? Não será óbvio que estes senhores não respeitaram a liberdade de imprensa e de expressão?
O Público vai recorrer ao Tribunal Constitucional. Já que se pode pôr o "Estado" em tribunal, porque é que esta chusma incompetente não pode ser levada a tribunal também por violação das nossas liberdades fundamentais?





segunda-feira, 9 de abril de 2007

Orquídeas...portuguesas!



Não sou grande fotógrafo, mas ainda assim decidi pôr estas duas fotos que tirei perto do Penedo de Lexim, algures nos arredores de Mafra. É que para mim estas plantinhas são especiais! Não é por serem apenas bonitas (embora o sejam de facto)! É por se tratar de orquídeas! Sim senhor, essa família de plantas com flor, muito na moda actualmente, também tem representantes autóctones de Portugal! E não são poucos por sinal...

A orquídea branca é uma
Cephalantera longifolia e a de flores rosa pálido pertence à espécie Orchis italica.

Ainda está para ver é por quanto tempo o concelho de Mafra mantém as suas poucas relíquias naturais... É que com o crescimento imobiliário ao rubro e o frenesim de construção de viadutos, pontes, rotundas, estradas e auto-estradas que se vive actualmente naquele concelho, alguns receios começam a surgir na minha cabeça, quais ervas-daninhas num canteiro mal cuidado...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Postwar



Para quem gosta de História Europeia recomendo absolutamente a última obra de Tony Judt: Postwar - A History of Europe since 1945.

Podia comentar a obra mas não vale a pena. As análises, os elogios, os comentários têm sido tantos e escritos por tanta gente entendida na matéria que eu não ia acrescentar mais nada. Até José Manuel Fernandes, director do Público, fê-lo recentemente.

Está magistralmente bem escrita e numa linguagem relativamente simples, sem cair na armadilha da simplificação dos conteúdos. Eu comprei-a quando saiu no final de 2005, altura em que só estava disponível a versão inglesa. Actualmente já se encontra traduzida na língua lusa.

Vale a pena...

Der Deutsche Herbst

Uma notícia que me chamou à atenção há uns tempos, mais precisamente no passado dia 25, foi a da libertação de Brigitte Mohnhaupt. Outrora chamada "a mais malvada mulher da Alemanha", esta assassina pertenceu ao grupo terrorista de extrema-esquerda Baader-Meinhof. Só este nome ainda hoje é capaz de gelar a espinha a muitos alemães ao evocar o Terror que nos anos 70 este grupo inflingiu na República Federal. Ele houve de tudo: sequestros, assassínios, assaltos,bombas,etc. Tudo com o venerável objectivo de "revelar a verdadeira face" da "tolerância repressiva" das democracias ocidentais, derrotar o capitalismo e mais uns tantos disparates arrogantes que têm inspirado alguns terroristas ao longo do seculo XX . Cumpriu 25 anos das cinco penas de prisão perpétua a que foi condenada e agora saiu em liberdade. Numa época como a actual em que o terrorismo é tão falado, vale a pena reflectir sobre os Baader-Meinhof.

Qualquer tipo de terrorismo surge num ambiente social e histórico que a ele seja propício, e este não foi excepção. Emergiu do meio da ressaca das movimentos estudantis dos anos 60, num país em que sucessivos governos do pós-guerra tinham ajudado a construir uma amnésia colectiva do que realmente se tinha passado na 2ª Guerra Mundial. O descontentamento com a República Federal da Alemanha (RFA) era grande e alguns chegavam mesmo a afirmar que não havia diferenças entre esta e a Alemanha Nazi. E juraram destruí-la. Nem que para isso fosse necessário usar os mesmo métodos que os nazis usaram para chegar ao poder! A juntar à loucura ignorante dos radicais deve-se recordar a simpatia que os mesmos colheram junto de muitos intelectuais, artistas e académicos da época.

O pico da violência dos Baader-Meinhof deu-se no ano de 1977, com os assassínios do Procurador-Geral da RFA e do presidente do Dresdner Bank e culminando no Outono, o chamado "Outono Alemão" (Deutscher Herbst). A 13 de Outubro um avião da Lufthansa foi pirateado e os terroristas exigiam a libertação dos muitos membros dos Baader-Meinhof presos. A polícia Federal Alemã não perdeu tempo.
A 18 de Outubro o avião foi libertado, sendo a notícia transmitida imediatamente pela rádio para todo o mundo. As prisões não foram excepção e nessa noite Andreas Baader, Gudrun Esslin e Jan-Carl Raspe suicidaram-se na prisão. Ulrike Meinhof suicidara-se antes, a Maio de 1976. No dia seguinte seria descoberto o corpo sem vida de Hans Martin Schleyer, presidente da Federação dos Industriais Alemães, em cujo rapto e assassínio Brigitte Mohnhaupt participou.

A Alemanha não foi a única a sofrer do terrorismo endógeno e anti-sistema na década de 70. A loucura sanguinária foi igual na Itália, onde o ex-Primeiro Ministro Aldo Moro foi raptado e assassinado. Um terrorismo diferente, de índole mais regionalista, mas igualmente brutal e estúpido, ceifou um número recorde de vidas nesta época na Irlanda do Norte e no País Basco. Esta foi também a década dos atentados de Munique, perpetrados por terroristas palestinianos em 1972.

A década de 70 mostrou como podem ser frágeis as democracias liberais aos seus opositores, chegando muitos a afirmar que as sociedades ocidentais se tinham tornado ingovernáveis. Mas também mostrou a sua resiliência. O voto da maioria dos eleitores voltou-se definitivamente para o centro do espectro político, com uma larga rejeição do terrorismo e dos seus objectivos políticos, algo que os terroristas da época acharam que não iria acontecer...

Decidi postar duas fotografias de
Brigitte Mohnhaupt, uma tirada enquanto estudante e a outra já na prisão... Para reflectir...